A enxaqueca é uma condição cerebral crônica caracterizada por crises de dor de cabeça pulsátil, de média ou forte intensidade, eventualmente associada a náuseas, vômitos, fotofobia e intolerância aos ruídos (fonofobia).
Em cerca de um terço dos casos, as crises são acompanhadas por sintomas neurológicos, geralmente visuais, conhecidos como auras.
O distúrbio ocorre em pessoas geneticamente suscetíveis. A Organização Mundial da Saúde calcula que no mundo existam 324 milhões habitantes nessas condições.
As crises são mais frequentes e mais intensas no sexo feminino. O risco de ocorrerem durante a vida é de 43% nas mulheres e de 18% nos homens. Ao redor de 25% dos pacientes apresentam mais de 3 dias de cefaléia por mês.
Os sintomas costumam instalar-se na adolescência ou no início da vida adulta. Embora os ataques sejam autolimitados, os portadores de enxaqueca correm risco mais alto de complicações vasculares, como derrames cerebrais e pré-eclâmpsia.
As causas da enxaqueca não estão completamente claras. A teoria mais aceita é a de que terminações nervosas sensitivas que inervam os vasos das meninges (membranas que protegem o cérebro e a medula espinhal) liberam substâncias que provocam dilatações das artérias meníngeas, acompanhadas de inflamação e extravasamento de proteínas.
Esses eventos acabam por ativar os neurônios de diversos centros cerebrais, causando a dor e as alterações neurológicas características do quadro. As náuseas e os vômitos surgem como consequência da estimulação do sistema nervoso autônomo. A sensibilidade à luz, aos odores e aos sons resulta de anormalidades nos neurônios que modulam as informações sensórias.
Muitas vezes, os episódios podem ser controlados com analgésicos comuns (entre eles o ácido acetilsalecílico), eventualmente associados à ergotamina, à cafeína e à metoclopramida (antiemético).
O tratamento dos casos que respondem mal a essas medidas deve ser feito com uma classe de drogas que recebe o nome de triptanos. Existem sete delas disponíveis no mercado. Entre as vantagens estão a baixa incidência de efeitos colaterais e o mecanismo mais específico de ação.
A resposta ao tratamento é mais eficaz, quando é iniciado logo que surgem os primeiros sintomas. O efeito começa depois de 20 a 60 minutos, dependendo do triptano escolhido.
A maioria deles pode ser administrada novamente depois de 2 a 4 horas, se houver necessidade. Aproximadamente um em cada três pacientes não responde ao triptano prescrito. Nessas situações vale a pena substituí-lo por outro triptano ou associá-lo a antieméticos e anti-inflamatórios.
Os triptanos são contraindicados em portadores de hipertensão não controlada, de insuficiência hepática ou renal ou de doença coronariana. Seu uso na gravidez deve ser avaliado com critério nas mulheres que não respondem a outros tratamentos, porque embora não provoquem defeitos genéticos graves, não é possível excluir a possibilidade de malformações menos aparentes.
Da mesma forma que outras drogas empregadas no tratamento das enxaquecas agudas, a administração frequente de triptanos está associada ao desenvolvimento da chamada cefaléia por uso excessivo de medicamentos, na qual o abuso de analgésicos leva a um ciclo vicioso. Por essa razão, o ideal é que os triptanos tenham seu uso limitado à média de dois dias por semana.
Os principais efeitos colaterais são formigamentos nas mãos e pés, endurecimento transitório do pescoço e sensação de opressão no peito não associada às coronárias.
De acordo com o Colégio Americano de Médicos, o tratamento de primeira linha das enxaquecas é anti-inflamatório associado a antiemético, quando há náuseas; os triptanos são indicados apenas quando não houver resposta.
Já a Federação Européia de Sociedades Neurológicas recomenda triptanos ou anti-inflamatórios como primeira escolha.
Dr.Drauzio Varella
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