sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Braille

Louis Braille chora
Markiano Charan Filho - 04/03/2010


No mês de setembro, durante o seminário sobre os 200 anos de nascimento de Louis Braille, em Brasília, DF, foram muitos os protestos e reclamos de pessoas e entidades à decisão do Ministério da Educação (MEC) de, a partir deste ano, o Programa Nacional do Livro Didático em Braille, do Fundo Na cional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), não imprimir mais livros didáticos em braille, material indispensável para estudantes cegos e com visão subnormal.

Várias vozes se levantaram, mas não houve, por parte do Governo Federal, uma explicação convincente. Contudo, quaisquer que sejam as razões, elas podem ser consideradas inadequadas. Porque, lembrando Louis Braille, “sem livros, os cegos não podem realmente aprender”. Quando afirmou isso, ele estava absolutamente certo, pois a leitura é um meio dos mais eficazes de se adquirir conhecimento e se desenvolver espírito crítico.

As comemorações e homenagens a esse grande gênio perdem seu brilho. De que valem se seu invento não está atingindo o objetivo principal? Não se quer aqui desqualificar o que se fez para reverenciar sua memória. Afinal, sua invenção merece todas as glórias possíveis. Entretanto, todos nós, cidadãos conscientes, e principalmente o poder público, devemos reverência a Louis Braille por meio de ações práticas, que levem seu sistema de leitura e escrita ao alcance das pessoas cegas.

Se Braille estivesse vivo certamente choraria diante dessa triste realidade, apesar das condições tecnológicas atuais permitirem e facilitarem a impressão em braille.

É preciso que as autoridades brasileiras tomem medidas urgentes, para que se retome a produção do livro didático, um produto de primeira necessidade, que faz parte da cesta básica do deficiente visual. Se não podem fazê-lo por meio de seus próprios órgãos, que o façam por meio de entidades capacitadas para isso.

Somente quando o livro didático voltar às mãos dos cegos brasileiros será possível afirmar que se caminha para tornar reais as ideias iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade.

Markiano Charan Filho é diretor-presidente da Associação de Deficientes Visuais e Amigos (Adeva).

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