O diabetes e as complicações dos pés
Sendo a neuropatia uma das complicações que mais afetam as pessoas com diabetes, reproduzimos a entrevista da Dra. Hermelinda Cordeiro Pedrosa ao Jornal da ADJ. Dra. Hermelinda é endocrinologista, diretora – Departamento de Complicações Crônicas e Pé Diabético da SBD e representante no Brasil do Grupo de Trabalho Internacional sobre Pé Diabético.
1. Jornal da ADJ – O que é a neuropatia diabética? Quais os sintomas?
Dra. Hermelinda – É uma complicação do Diabetes Mellitus que acomete 50% das pessoas acima de 60 anos que têm essa doença e que resulta em insensibilidade nos pés, com ou sem deformidades, com ou sem sintomas, principalmente entre aquelas que não fazem bom controle da glicose. O desfecho maior da Neuropatia Diabética (ND) são as úlceras, que surgem na grande maioria das vezes, após traumas freqüentemente não percebidos pelos pacientes. Essas úlceras podem resultar em amputações.
2. Jornal da ADJ – A neuropatia pode afetar mais órgãos do corpo humano?
Dra. Hermelinda – Pode afetar o coração, o estômago, os intestinos, a bexiga, os órgãos genitais. Com isso o paciente pode ter problemas graves como arritmias; infartos sem dor; dificuldades na digestão; constipação ou diarréia; retenção da urina; disfunção erétil.
3. Jornal da ADJ – Como o paciente sabe diferenciar se está com neuropatia ou com problemas circulatórios? Qual profissional poderá ajudá-lo?
Dra. Hermelinda – Quando a ND se apresenta com sintomas, o paciente geralmente sente dores em queimação, pontadas, agulhadas, choques, que surgem em repouso e se acentuam à noite, melhorando com os movimentos (caminhar, por exemplo). Se há diminuição da sensibilidade os traumas (exemplo: uso de calçados inadequados, topadas, etc...), as úlceras se desenvolvem, geralmente na sola dos pés, sobretudo em pontos de pressão que se instalam nas deformidades (calos).
Os problemas circulatórios, por sua vez, quando acompanhados de dor, são referidos na batata das pernas ao caminhar e melhoram quando a pessoa pára de andar. Os pés, em estágios avançados, mostram alterações como pele fria e fina, azulada, com ou sem pêlos, unhas que crescem pouco. As úlceras mostram-se mais nas partes laterais ou internas dos pés, como também nos dedos, além da gangrena.
O endocrinologista pode realizar exames simples desde avaliação visual como a aplicação de testes neurológicos rápidos para detectar a neuropatia. A palpação dos pulsos pode indicar, na diminuição ou ausência, a presença de má circulação. Um teste simples, que pode ser realizado também pelo endocrinologista, é a tomada de pressão nas pernas, através de um ecodoppler manual. No entanto, muitas vezes, para assegurar o diagnóstico, pode encaminhar o paciente para um Cirurgião Vascular, que fará uma avaliação mais detalhada e indicará a necessidade ou não de aprofundar a investigação.
4. Jornal da ADJ – Com que freqüência as pessoas com diabetes devem examinar os pés? Para aquelas que sofrem com neuropatias, a freqüência é a mesma?
Dra. Hermelinda – O melhor é examinar todos os dias. Contudo, se a pessoa sabe que tem ND e/ou má circulação esse exame deve ser mais rigoroso, pois a insensibilidade resulta na perda de dor, por exemplo, e o paciente perde o “alarme” de algo está ocorrendo. Infelizmente, muitos pacientes desenvolvem úlceras nos pés por objetos nos calçados, que não são percebidos.
5. Jornal da ADJ – Quais sinais indicam que devemos procurar um médico especializado em pés?
Dra. Hermelinda – Além dos sintomas já destacados, qualquer lesão, por menor que seja, deve ser avaliada por um profissional médico ou pela enfermagem, devidamente treinada, para que seja avaliada. Uma frieira, por exemplo, se não for bem cuidada, pode evoluir para uma lesão maior e até resultar em amputação. Infelizmente, ainda existem pacientes que procuram as emergências, quando descobrem úlceras, e são medicados com penicilina injetável, sem a orientação devida, evoluem de modo desastroso, pois quando a infecção se instala nessas úlceras, quer causada pela ND e/ou pela má circulação, é um fator complicador sério.
6. Jornal da ADJ – Quando aparecem as úlceras nos pés?
Dra. Hermelinda – Como já frisado, o melhor é procurar imediatamente o médico ou a equipe de saúde dos centros e programas de diabetes existentes na rede privada ou pública, como também, nas associações de pessoas com diabetes.
7. Jornal da ADJ – Existe alguma dica para a escolha de calçados adequados?
Dra. Hermelinda – Sim, aqueles sem ND ou má circulação podem ter como exemplo calçado tipo tênis. Se há insensibilidade e deformidades, mesmo leves, a altura deve ser ampla, o couro macio, poucas costuras, sem bico fino e saltos moderados (para as mulheres). No caso de deformidades mais acentuadas o ideal é ter um calçado confeccionado sob medida.
8. Jornal da ADJ – O que devemos fazer para evitar a neuropatia?
Dra. Hermelinda – Como todas as outras complicações do diabetes, o controle de glicose é o mais importante, pois reduz em 50% a chance de ND entre pacientes com o Tipo 1 e entre 25% a quase 40% entre os com Tipo 2. Dessa forma, monitorizar a glicose regularmente e realizar a hemoglobina glicada de três a quatro vezes por ano, mantendo-se entre 6,5 a menor que 7% resulta em menor chance de ND.
9. Jornal da ADJ – Existe tratamento para neuropatia?
Dra. Hermelinda – Infelizmente, não. Há medicamentos para o tratamento da dor que variam desde anticonvulsionantes a antidepressivos, indicados após a devida avaliação da intensidade e definição da dor. É importante ressaltar que o uso de antiinflamatórios não resulta em bons resultados e podem comprometer os rins.
Fonte: Jornal da ADJ
www.diabete.com.br
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