segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Coração

Mensagem do coração

Naquela manhã, sentiu vontade de dormir mais um pouco. Estava cansado porque na noite anterior fora dormir muito tarde. Também não havia dormido bem. Tinha um sono agitado. Mas logo abandonou a idéia de ficar um pouco mais na cama e se levantou, pensando na montanha de coisas que precisava fazer na empresa.
Lavou o rosto e fez a barba correndo, automaticamente. Não prestou atenção no rosto cansado nem nas olheiras escuras, resultado das noites mal-dormidas. Nem sequer percebeu um aglomerado de pêlos teimosos que escaparam da lâmina de barbear.
"A vida é uma seqüência de dias vazios que precisamos preencher", pensou enquanto jogava a roupa por cima do corpo. Engoliu o café e saiu resmungando baixinho um "bom dia", sem convicção.
Desprezou os lábios da esposa que se ofereciam para um beijo de despedida. Não notou que os olhos dela ainda guardavam a doçura de mulher apaixonada, mesmo depois de tantos anos de casamento.
Não entendia porque ela se queixava tanto da ausência dele e vivia reivindicando mais tempo para ficarem juntos. Ele estava conseguindo manter o elevado padrão de vida da família, não estava? Claro que não teve tempo para esquentar o carro nem sorrir quando o cachorro, alegre, abanou o rabo. Deu partida e acelerou. Ligou o rádio, que tocava uma canção antiga do Roberto Carlos, "detalhes tão pequenos de nós dois..." Pensou que não tinha mais tempo para curtir detalhes tão pequenos da vida.
Pegou o telefone celular e ligou para a sua filha. Sorriu quando soube que o netinho tinha dado os primeiros passos. Ficou sério quando a filha lembrou-o de que há tempos ele não aparecia para ver o neto e convidou-o para almoçar. Ele relutou bastante: sabia que iria gostar muito de estar com o neto, mas não podia, naquele dia, dar-se ao luxo de sair da empresa. Agradeceu o convite, mas respondeu que seria impossível. "Quem sabe no próximo final de semana?" Ela insistiu, disse que sentia muita saudade e que gostaria de poder estar com ele na hora do almoço. Mas ele foi irredutível: realmente era impossível.
Chegou á empresa e mal cumprimentou as pessoas. A agenda estava completamente lotada, e era muito importante começar logo a atender seus compromissos, pois tinha plena convicção de que pessoas de valor não disperdiçam seu tempo com conversa fiada.
No que seria sua hora do almoço, pediu para a secretária trazer um sanduíche e um refrigerante diet. O colesterol estava alto, precisava fazer um chek-up mas isso ficaria para o mês seguinte. Começou a comer enquanto lia alguns papéis que usaria na reunião da tarde.
Nem observou que tipo de lanche estava mastigando. Enquanto engolia relacionava os telefonemas que deveria dar, sentiu um pouco de tontura, a vista embaçou.
Lembrou-se do médico advertindo-o, alguns dias antes, quando tivera os sintomas de que estava na hora de fazer um chek-up. Mas logo ele concluiu que era um mal-estar passageiro, que seria resolvido com um café forte, sem açúcar.
Terminado o "almoço", escovou os dentes e voltou à sua mesa. "A vida continua", pensou. Mais papéis para ler, mais decisões a tomar, mais compromissos a cumprir. Nem tudo saía com ele queria. Começou a gritar com o gerente, exigindo que este cumprisse o prometido. Afinal, ele estava sendo pressionado pela diretoria. Tinha de mostrar os resultados. Será que o gerente não conseguia entender isso? Saiu para a reunião já meio atrasado. Não esperou o elevador. Desceu as escadas pulando de dois em dois degraus. parecia que a garagem estava a quilômetros de distância, encravada no miolo da Terra, e não no subsolo do prédio.
Entrou no carro, deu a partida e, quando ia engatar a primeira marcha, sentiu de novo o mal-estar. Agora havia uma dor forte no peito. O ar começou a faltar... a dor foi aumentando... o carro desapareceu... os outros carros também... Os pilares, as paredes, a porta, a claridade da rua, as luzes do teto, tudo foi sumindo diante de seus olhos, ao mesmo tempo em surgiam cenas de um filme que ele conhecia bem.
Quadro a quadro, ele via a esposa, o netinho, a filha, e uma após outra, todas as pessoas que mais gostava. Por que mesmo não tinha ido almoçar com a filha e o neto? O que a esposa tinha dito à porta de casa quando ele estava saindo, hoje de manhã? Por que não foi pescar com os amigos no último feriado? A dor no peito persistia, mas agora outra dor começava a perturbá-lo: a dor do arrependimento. Ele não conseguia distinguir qual era a mais forte, a da coronária entupida ou a de sua alma rasgando.
Escutou o barulho de alguma coisa quebrando dentro de seu coração, e de seus olhos escorreram lágrimas silenciosas. Queria viver, queria ter mais uma chance, queria voltar para a casa e beijar a filha, brincar com o neto... queria... queria... mas não deu tempo...



Mensagem do coração - Naquela manhã, sentiu vontade de dormir mais um pouco. Estava cansado porque na noite anterior fora dormir muito tarde. Também não havia dormido bem. Tinha um sono agitado. Mas logo abandonou a idéia de ficar um pouco mais na cama e se levantou, pensando na montanha de coisas que precisava fazer na empresa.
Lavou o rosto e fez a barba correndo, automaticamente. Não prestou atenção no rosto cansado nem nas olheiras escuras, resultado das noites mal-dormidas. Nem sequer percebeu um aglomerado de pêlos teimosos que escaparam da lâmina de barbear.
"A vida é uma seqüência de dias vazios que precisamos preencher", pensou enquanto jogava a roupa por cima do corpo. Engoliu o café e saiu resmungando baixinho um "bom dia", sem convicção.
Desprezou os lábios da esposa que se ofereciam para um beijo de despedida. Não notou que os olhos dela ainda guardavam a doçura de mulher apaixonada, mesmo depois de tantos anos de casamento.
Não entendia porque ela se queixava tanto da ausência dele e vivia reivindicando mais tempo para ficarem juntos. Ele estava conseguindo manter o elevado padrão de vida da família, não estava? Claro que não teve tempo para esquentar o carro nem sorrir quando o cachorro, alegre, abanou o rabo. Deu partida e acelerou. Ligou o rádio, que tocava uma canção antiga do Roberto Carlos, "detalhes tão pequenos de nós dois..." Pensou que não tinha mais tempo para curtir detalhes tão pequenos da vida.
Pegou o telefone celular e ligou para a sua filha. Sorriu quando soube que o netinho tinha dado os primeiros passos. Ficou sério quando a filha lembrou-o de que há tempos ele não aparecia para ver o neto e convidou-o para almoçar. Ele relutou bastante: sabia que iria gostar muito de estar com o neto, mas não podia, naquele dia, dar-se ao luxo de sair da empresa. Agradeceu o convite, mas respondeu que seria impossível. "Quem sabe no próximo final de semana?" Ela insistiu, disse que sentia muita saudade e que gostaria de poder estar com ele na hora do almoço. Mas ele foi irredutível: realmente era impossível.
Chegou á empresa e mal cumprimentou as pessoas. A agenda estava completamente lotada, e era muito importante começar logo a atender seus compromissos, pois tinha plena convicção de que pessoas de valor não disperdiçam seu tempo com conversa fiada.
No que seria sua hora do almoço, pediu para a secretária trazer um sanduíche e um refrigerante diet. O colesterol estava alto, precisava fazer um chek-up mas isso ficaria para o mês seguinte. Começou a comer enquanto lia alguns papéis que usaria na reunião da tarde.
Nem observou que tipo de lanche estava mastigando. Enquanto engolia relacionava os telefonemas que deveria dar, sentiu um pouco de tontura, a vista embaçou.
Lembrou-se do médico advertindo-o, alguns dias antes, quando tivera os sintomas de que estava na hora de fazer um chek-up. Mas logo ele concluiu que era um mal-estar passageiro, que seria resolvido com um café forte, sem açúcar.
Terminado o "almoço", escovou os dentes e voltou à sua mesa. "A vida continua", pensou. Mais papéis para ler, mais decisões a tomar, mais compromissos a cumprir. Nem tudo saía com ele queria. Começou a gritar com o gerente, exigindo que este cumprisse o prometido. Afinal, ele estava sendo pressionado pela diretoria. Tinha de mostrar os resultados. Será que o gerente não conseguia entender isso? Saiu para a reunião já meio atrasado. Não esperou o elevador. Desceu as escadas pulando de dois em dois degraus. parecia que a garagem estava a quilômetros de distância, encravada no miolo da Terra, e não no subsolo do prédio.
Entrou no carro, deu a partida e, quando ia engatar a primeira marcha, sentiu de novo o mal-estar. Agora havia uma dor forte no peito. O ar começou a faltar... a dor foi aumentando... o carro desapareceu... os outros carros também... Os pilares, as paredes, a porta, a claridade da rua, as luzes do teto, tudo foi sumindo diante de seus olhos, ao mesmo tempo em surgiam cenas de um filme que ele conhecia bem.
Quadro a quadro, ele via a esposa, o netinho, a filha, e uma após outra, todas as pessoas que mais gostava. Por que mesmo não tinha ido almoçar com a filha e o neto? O que a esposa tinha dito à porta de casa quando ele estava saindo, hoje de manhã? Por que não foi pescar com os amigos no último feriado? A dor no peito persistia, mas agora outra dor começava a perturbá-lo: a dor do arrependimento. Ele não conseguia distinguir qual era a mais forte, a da coronária entupida ou a de sua alma rasgando.
Escutou o barulho de alguma coisa quebrando dentro de seu coração, e de seus olhos escorreram lágrimas silenciosas. Queria viver, queria ter mais uma chance, queria voltar para a casa e beijar a filha, brincar com o neto... queria... queria... mas não deu tempo...



Autor Desconhecido

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