Por Everth Queiroz Oliveira
Realmente não estou com muito tempo para acompanhar a repercussão da decisão tomada pelo Supremo Tribunal de nosso país em legalizar a união dita “homoafetiva”. Mas há coisas que não podem passar despercebidas, sem que sequer façamos alguma nota. E um destes tristes elementos que são enfocados pela mídia no atual contexto que vivenciamos é a palavra da Teologia da Libertação acerca do casamento homossexual, tema de uma entrevista publicada ontem n’O Globo. O entrevistado é o frei Gilvander Moreira, assessor da Comissão Pastoral da Terra e – pasmem – entusiasta da decisão tomada pela Corte Brasileira.
A matéria publicada na mídia secular é um verdadeiro espetáculo de rebeldia e subversão, um endosso ao modernismo – já que os proscritos defensores desta desgraça parecem ter certeza que “o dogma evolui” – e, ao mesmo tempo, uma ocasião para refletirmos no quanto estamos rezando por nossos sacerdotes. Ter que ouvir – de um padre católico, meu Deus do céu! – coisas como “Por que não pode haver também famílias homossexuais?” ou “Feliz do povo que ouve os clamores dos que fazem outra opção sexual senão a hegemônica” é realmente lamentável. Separo abaixo algumas das pérolas da entrevista, seguidas ou precedidas de alguns comentários nos quais relaciono o que fala o nosso frade com aquilo que é de fato doutrina católica.
- “Infelizmente estamos numa sociedade preconceituosa, intolerante, hipócrita e cínica. Ainda há muito moralismo, fundamentalismos e sectarismos em segmentos conservadores de igrejas e da sociedade, que ficaram irritados e questionam o acerto da decisão. (…) O movimento que defende os direitos dos homossexuais está crescendo, o que é muito bom. Na decisão do STF, não se pode deixar de destacar e parabenizar a luta deste movimento, que vem marchando pelas ruas e erguendo suas bandeiras.” Para começar, aquilo que frei Gilvander chama de “moralismo, fundamentalismo e sectarismo” é, na verdade, o pensamento dos Santos Padres da Igreja de Deus, que, em consonância com as Sagradas Escrituras, sempre e em todos os lugares condenaram a prática homossexual como abominável e imoral. Se ele não acredita na assistência do Espírito Santo ao sagrado Magistério e à Bíblia, não pode chamar ninguém de hipócrita, porque faz o mesmo ao se vestir de pastor sendo, na verdade, um lobo de ovelhas. O movimento homossexual não defende direito dos homossexuais; defende, ao invés, que privilégios – muitas vezes inconstitucionais e contrários à Justiça – sejam a eles garantidos. Assim, o casamento – que a Constituição reconhece legítimo ocorrendo entre um homem e uma mulher – passa a ser equiparado à união intrinsecamente estéril entre duas pessoas de mesmo sexo; e os religiosos que condenam o ato sexual “homoafetivo” – gostaria de usar a vírgula e dizer que todos os cristãos fazem isso, mas os fatos mostram que há exegetas desonestos e pastores gayzistas – agora deveriam calar-se, não podendo tratar mais o tema livremente, como em uma democracia. Os supostos “direitos” que essa gente quer são, na verdade, imposições ideológicas. O crescimento do movimento gay não é um fato “bom”, senão nocivo, perverso. E isto não é de modo algum intolerância e preconceito, porquanto é a mesma doutrina católica – à qual, DEVEMOS, como católicos, nos sujeitar – que diz que a necessidade de proscrevermos o pecado da sodomia não exclui a caridade que devemos ter para com aqueles que apresentam a tendência homossexual. Estes, diz o Catecismo, “[d]evem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta” (§ 2358).
- Foi perguntado ao clérigo se ser homossexual é pecado. “Se o elo mais forte de uma corrente é justamente o elo mais fraco – respondeu-lhe -, só poderá ser mais justo e aplaudido por Deus o elo enfraquecido e discriminado. Feliz do povo que ouve os clamores dos que fazem outra opção sexual senão a hegemônica. Deus ouve os clamores de todas as pessoas oprimidas. Deus é amor e não discrimina e nem pune ninguém por opção ou orientação sexual. Deus acolhe a todos sem distinção.” Se por “opção ou orientação sexual” o frade se refere ao pecado da sodomia consumado deliberadamente, sabe-se que é mentira a afirmação que “Deus não pune ninguém por isto”. É claro que pune. Podemos dar o exemplo clássico de Sodoma, a cidade que foi destruída pelos pecados ali cometidos contra a natureza. É, sim, verdade, que Deus ouve os clamores dos oprimidos. É também verdade que Ele é amor. Isto na boca de qualquer teólogo da libertação, no entanto, acaba se tornando uma mensagem distorcida, já que ele dá cartão vermelho à dimensão transcendental do Evangelho e se esquece que “o salário do pecado é a morte” e que Deus quer, justamente por amor, a nossa mudança de vida. Esta última expressão, inclusive, no vocabulário TL, não passa nem pelo Decálogo nem pelos Sacramentos, mas sim pela leitura de algum livro do Karl Marx ou pela mobilização social revolucionária. Doa a quem doer, a moral não muda! A heterossexualidade não é “opção sexual hegemônica”, mas sim disposição da sexualidade tal como ela foi constituída pelo Altíssimo. É a união de um óvulo com um espermatozoide que promove a transmissão da vida. Fora desta abertura à concepção – é o que nos ensina o papa Paulo VI na Humanae Vitae (cf. n. 11) – dessacraliza-se o ato sexual. Isto é o que ensina a moral católica. É a estas palavras que devemos obediência.
- Diz o Cardeal Joseph Ratzinger, em documento publicado pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé ainda em 1986: “Ela [a Igreja] é consciente de que a opinião segundo a qual a atividade homossexual seria equivalente à expressão sexual do amor conjugal ou, pelo menos, igualmente aceitável, incide diretamente sobre a concepção que a sociedade tem da natureza e dos direitos da família, pondo-os seriamente em perigo.” Frei Gilvander, no entanto, perguntado se a união homossexual ameaçaria a família, responde o contrário: “Penso que não (…). Por que não pode haver também famílias homossexuais?”
- “Devemos preservar a nossa vida, a do próximo e a de toda a biodiversidade. Para isso, são necessárias várias coisas, entre as quais o uso da camisinha nas relações sexuais. Por questão de saúde pública e respeito à sacralidade de cada um. Não podemos correr risco de contrair HIV e/ou doenças sexuais que matarão o outro aos poucos. Isso não tem o apoio do Deus da vida.” Lendo uma resposta destas, eu fico aqui pensando comigo mesmo se o sacerdote já parou pra pensar se a castidade pode ser um remédio contra a AIDS e as outras doenças sexualmente transmissíveis. Porque é esta a exortação da Igreja. Realmente não tem o apoio do Deus da vida arriscar-se a contrair uma doença perigosa, mas por que não se fala da importância de guardar a pureza, de não praticar relações sexuais fora do sacramento do Matrimônio – o que é o perene ensinamento da Santa Igreja? Não é este – segundo constatou inclusive um renomado cientista há algum tempo atrás – o remédio mais eficaz no combate ao HIV? A propósito, o uso da camisinha no ato conjugal – como já foi dito anteriormente – não pode ser aprovado, posto que fecha o sexo à transmissão da vida. E Paulo VI é enfático – citei a Humanae Vitae e recomendo-a novamente – em relação a isto: “[C]hamando a atenção dos homens para a observância das normas da lei natural, interpretada pela sua doutrina constante, a Igreja ensina que qualquer ato matrimonial deve permanecer aberto à transmissão da vida” (n. 11). A proscrição vale para quem é solteiro, mas também é direcionada aos casais que receberam o sacramento do Matrimônio.
- Agora quem – ainda – não conseguiu identificar o elemento TL no discurso do frade carmelita vai ter uma defesa explícita da heresia. “Há muitos teólogos e teólogas, cristãos e cristãs, que partilham conosco essas posições. Todo o povo da Teologia da Libertação. Na Igreja, há membros que comungam conosco dessa visão mais compreensiva com os direitos das minorias. Há igrejas e não apenas uma igreja.Quando membros da Igreja instituição se posicionam de forma moralista, proselitista e autoritária, afugentam muitas pessoas. Mas quando membros da igreja ouvem, dialogam e, inspirados no evangelho de Jesus Cristo, testemunham o grande sonho do Deus, o da vida em liberdade e abundância, cativam muitas pessoas para se engajar em projetos humanizadores.” Cai a máscara! O “povo da Teologia da Libertação” é adepto desta infinidade de asneiras. Ou seja, a TL entregou-se definitivamente à dissolução, pois é desejosa de agradar não a Deus, mas aos homens. Não nos enganemos com o discurso aparentemente sedutor desta gente. “Visão mais compreensiva com os direitos das minorias” não pode ser abdicação da responsabilidade de condenar o pecado. Ouvir e dialogar – coisas que frei Gilvander acusa implicitamente os “moralistas” de não fazer – não significa aprovar uma conduta já reprovada pela Sagrada Escritura e pela Tradição da Igreja. E – deixem-me dizer – não é verdade que quem defende a moral e a autoridade da Sé Católica “afugenta” as pessoas da Igreja. Muito pelo contrário. Quem esvazia as nossas igrejas é justamente aquele que fica adaptando o Evangelho ao anseio de ouvir novidades de algumas pessoas… E mesmo que fosse verdade o que é dito pelo frade, “ser compreensivos com aquele que peca (…) não equivale a diminuir as exigências da norma moral”, como nos lembra o Bem-aventurado João Paulo II.
Se, no diálogo com as pessoas não-católicas, lançarmos mão do rico conteúdo da doutrina católica e buscarmos tão somente satisfazer a vontade de quem nos escuta, seremos como o sal insosso. “Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens” (Mt 5, 13).
Graça e paz.
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