terça-feira, 7 de dezembro de 2010

AMOR...

Confissões de um filósofo: sobre o amor


Quem poderá explicar a sua origem? Filósofos, teólogos, psicólogos e curiosos tentam dar uma razão ao sentido dele existir. Poetas da alma procuram respostas. Alguns dizem que ele vem sem esperar. Outros que ele nasce aos poucos. Uns dizem que ele surge de um lindo olhar. Outros que falam que o conheceram através de um sorriso.

Buscar razões para a sua existência talvez seja percorrer uma estrada sem fim. Onde cada curva revela-nos os mais belos horizontes ainda não conhecidos. Ele é assim: uma surpresa a cada novo momento. Semelhante as flores que desabrocham e exalam o seu mais suave perfume. Mario Quintana sabia que se morresse deste mal ainda continuaria vivendo: “Tão bom morrer de amor e continuar vivendo”.

O amor é como uma noite de estrelas iluminando a infinitude de nossa alma. Compreende-lo é romper com o mistério que o torna único. Suas razões são tão variadas como as flores de um jardim. Porém de uma coisa sabemos: é preciso cultivá-lo. Amor que não é cultivado é como uma planta que vai se secando por falta de água.

Antoine de Saint-Exupéry compreendia em seu coração a direção que o amor seguia: “Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção”. Sim, seguir os mesmos passos. Andar juntos. Porém sem atropelar o outro. Olhar com a mesma alegria, como o sol nos olha todas as manhãs. Iluminar cada tristeza com a presença de quem descobriu o sentido de viver.

Quem disse que os filósofos não amam? Até mesmo os mestres da razão têm suas razões emocionais que a própria razão desconhece. Albert Camus concebia o amor como uma presença até o fim da existência: “Amar uma pessoa significa querer envelhecer com ela”. Muitos, assim como Camus, sonham com está experiência de amar até que a morte os separe. Quem irá condená-lo? Eu não me arriscaria!

Tantos livros sobre o amor. Tantas explicações e teses. Busca-se compreender o que existe para ser vivenciado. Drummond sabia muito bem desta verdade: “Se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis”. Como explicar o que é impossível?

Amor talvez seja colher flores nos jardins que habitam nossa alma. Regar logo de manhã para que cresçam no transcorrer do dia. Arrancar as ervas daninhas que insistem em crescer. Curar feridas que o tempo não cicatrizou. Construir colchas com os retalhos de uma vida.

Explicar o amor é vã ilusão. Fugir do amor e fugir de si mesmo. Pois ele brota no coração. Nasce devagar, às vezes incomoda, causa dores e alegrias. Viver talvez seja fazermos a mais bela experiência de amar. Charles Chaplin pode confirmar o que hoje lhes confesso: “O homem não morre quando deixa de viver, mas sim quando deixa de amar”.

Quer morrer antes do tempo? Deixe de amar. Deixe de sonhar e ter esperanças. Assim conseguirá chegar mais rápido aonde quase ninguém deseja ir.

Partilhar as dores e alegrias desta existência está implícito no ato de amar. Mudar, dar lugar, peregrinar para outras existências que entram em nossa história. Mario Quintana deve ter feito está linda experiência em sua vida. Pois ele profetizou este sentimento do eterno peregrinar: “Amar é mudar a alma de casa”.

Ontem voltando para minha casa vinha pensando nestas questões. Antes de chegar até minha casa percorro carinhosamente o jardim que cultivo com imenso amor. Olhando para uma das rosas mais lindas daquele recanto amoroso, pude ouví-la dizer-me uma sábia frase de William Shakespeare: “O amor não se vê com os olhos mas com o coração”.



Flávio Sobreiro

Filósofo pela PUCCAMP, Teólogo pela FACAPA, Estudante de Filosofia Clínica, Escritor e Poeta.

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