sexta-feira, 18 de março de 2011

Energia Nuclear

O nosso medo atômico
Zuenir Ventura - 17/03/2011


Diante dessas imagens de devastação que, Deus nos livre, parecem antecipar cenas do Juízo Final no Japão, não sei o que atinge o mais alto grau numa hipotética escala do medo - se os terremotos com tsunamis ou se o vazamento radioativo das usinas, com a ameaça de catástrofe nuclear. Se o inimigo visível que se arrasta e arrasa o que encontra pela frente, como se fosse um monstro bíblico saído do oceano, ou se aquele outro que vem pelo ar e é capaz de contaminar a atmosfera, a natureza e as pessoas. Talvez porque no Brasil nos achamos livres dos tremores - de terra e de mar - o desastre atômico se apresenta como o perigo possível.

Nestes últimos dias, via o noticiário e não deixava de pensar em Angra. Se isso estava acontecendo num país precavido como o Japão, o que dirá com o nosso, que não previne nem queda de barranco. Pode ser paranoia de quem viveu num século que esteve na iminência de uma guerra nuclear entre EUA e a então URSS, com chance de espalhar os danos para todo o planeta. Em 1945, Hiroshima já fora arrasada por uma bomba de urânio e Nagasaki, em seguida, por outra de plutônio, e, a partir de então, um fantasma passou a nos perseguir, e não apenas na sua forma bélica, mas também pacífica, através da produção de energia, com seus riscos de radiação. Em 1979, houve o acidente na usina de Three Mile Island, na Pensilvânia (EUA), e em 86 outro mais grave, em Chernobyl, na Ucrânia, cujos efeitos ainda se faziam sentir uma década após, quando se detectaram cerca de 800 casos de câncer de tireoide em crianças da região que na época do desastre eram bebês.

Preocupada, a Europa pensa agora em rever seu sistema de segurança nuclear. Suíça, Alemanha e Índia já puseram um freio na expansão de seus programas. EUA e Rússia, não. Qual exemplo o Brasil seguirá? Leonam dos Santos, assistente da presidência da Eletronuclear, que opera as usinas, mostra-se tranquilo, afirmando que Angras 1 e 2 são diferentes, usam tecnologia mais segura do que os reatores japoneses. Ambas teriam sido projetadas para suportar um terremoto de 7 graus e ondas de até seis metros de altura. O presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Edson Kuramoto, reforça o argumento de que nossas usinas não oferecem perigo.

Mas há controvérsia. O professor José Goldemberg resume: “A energia nuclear é um eterno perigo, ela não vale o risco.” O secretário de Ambiente do Rio, Carlos Minc, depois de lembrar que já houve 16 acidentes leves e médios em Angra 1, adverte: “Não existe risco zero. O Brasil não tem cultura de prevenção.” Também o físico Luiz Pinguelli Rosa aconselha a se ter “muito cuidado”.

Será que estamos tendo?

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